As mulheres são maioria entre os brasileiros com dívidas em atraso, consequência direta da recuperação mais lenta do mercado de trabalho para elas.
Oito em cada dez brasileiras estão endividadas, mostra pesquisa. O percentual de brasileiros com dívidas em atraso é o maior em 12 anos, e a situação é mais grave para as mulheres.
O endividamento tem o rosto da massoteraputa Aline Gomes, chefe de família, mãe de uma menina de 6 anos: “Eu acabei deixando algumas contas para não deixar faltar o alimento em casa para minha filha, para minha família.”
E também tem a cara da dona de casa Fernanda Leite Pires, casada, três filhos: “Para não passar necessidade, a gente se endivida. Para poder fazer, ter as coisas em casa. Você vai pagar uma dívida, aí quando você termina de pagar essa dívida, você tem que pagar outra.”
As mulheres são maioria entre os brasileiros endividados. Segundo uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, no mês passado, 80% das consumidoras tinham contas a vencer. Em janeiro, eram 72%.
E pior: nem todas conseguem pagar, diz a economista da CNC, Izis Ferreira.
Na casa de Fernanda, faz tempo que o mês fecha no vermelho. Ela e o marido ficaram desempregados no início da pandemia. Ele arrumou outro emprego faz um ano; ela ainda não. Um retrato de como se dá a recuperação do mercado de trabalho, mais lenta para as mulheres. Sem renda, Fernanda ainda não conseguiu limpar o próprio nome.
As contas saem dos eixos quando há um desequilíbrio entre o que entra e o que sai no orçamento de casa. No caso das mulheres, a pressão vem dos dois lados. A pandemia aprofundou as desigualdades, colocou muitas na informalidade e fez a renda cair. Ao mesmo tempo, a inflação alta é ainda mais cruel com quem ganha menos. O resultado disso é um endividamento crescente, que não é bom para ninguém.
A economista do Insper Juliana Inhasz explica que dívidas que se arrastam ou sequer são pagas travam a economia.
FONTE: G1